Voltando para Casa

17:49



Existia uma Rainha. E por muito tempo, essa Rainha caminhou em busca de seu próprio lugar.
Passou por cenários belíssimos: castelos, montanhas, florestas, mares; mas nunca se sentia plena em nenhum deles, e, por isso, continuava caminhando. 

Trazia consigo um pouquinho de cada um desses lugares com ela, o que resultou em, depois de longos anos de caminhada, fazê-la sentir-se cansada. A bagagem passou a pesar-lhe, e ela já não tinha mais clareza do que buscava. 

Até que, um dia, a Rainha deparou-se com uma porta. 
Era uma porta de madeira, muito antiga. E ao olhar aquela porta, ela lembrou-se de seu objetivo e sentiu que finalmente estava próxima ao seu destino. 

Apressou-se para enfim entrar.
Mas quando tentou abrir a tal porta, percebeu que a mesma estava trancada. Fez força, bateu para tentar ser ouvida do outro lado, olhou pela fechadura, mas nada. Não conseguia ver nada e não havia sinal de que ela se abriria sem a chave.
Desesperou-se. Onde estaria então a chave?

Passou a procurá-la em seu entorno, à sua volta, debaixo das coisas. Estava ansiosa e com pressa, e assim, no meio da ânsia de se libertar, desequilibrou-se e caiu com sua bagagem pesada sobre si.
Começou a chorar.

Mas como Rainha de si mesma, forçou-se logo a se recuperar e passou então a se livrar de tudo que fazia-lhe mal.
Tirou a bagagem pesada das costas e a deixou cair no chão.
Mas ainda assim não conseguia enxergar seus machucados, e não sabia como curar-se.
Foi tirando então peça por peça das roupas que montavam a personagem que ela interpretava sem nem se dar conta.
Descalçou os sapatos, conectando-se enfim com o lugar presente onde se encontrava naquele momento, e saindo portanto de suas fantasias. Tirou o casaco, a blusa, a calça, as luvas, as jóias, as roupas de baixo. Até estar totalmente nua.
Sentiu-se completamente leve pela primeira vez.
E então, tirou também a coroa. Porque agora, sabia que era Dona de si, e não precisava mais provar isso para ninguém.
Seu poder estava dentro de si.

Assim, quando voltou-se à velha porta, sem arrogância, sem peso e sem pressa, esta lhe era familiar, como uma velha amiga. Como a porta da casa que agora retornava.
E descobriu que a chave, na verdade, estivera com ela o tempo todo. Despida, nua e pura, podia encontrá-la com facilidade.

E então, finalmente destrancou sua porta, entrou em seu Paraíso, e nunca mais voltou.


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