Preço de um Rico, Preço da Liberdade

11:58



Vivemos tão acostumados com os padrões que regem nossa sociedade que muitas vezes torna-se dificil perceber o quão paradoxal, desgastante e absurda ela é. 

Crescemos ouvindo que temos que decidir o quanto antes aquilo que gostamos (e que, portanto, somos bons em fazer), mas não nos é dado tempo de refletir sobre isso, de experimentar, de errar se for preciso. Parece que estamos constantemente competindo contra o tempo.
O sistema é tão controverso que a partir do momento em que decidimos (ou pensamos que sim) o que queremos, somos obrigados a nos aprisionar em formas de conseguir viver - lê-se: ganhar dinheiro - com isso. Não há mais espaço para se gostar genuinamente das coisas. Não há mais tempo para apreciação. E, se por acaso você decidir que não quer participar desse sistema, é como se você estivesse desperdiçando uma vida inteira, já que não gosta de "nada útil". Quem foi que decidiu o que é bom ou não gostar? Será que temos real liberdade de decidirmos o que queremos fazer com nossas próprias vidas, nosso próprio tempo?

Chega um momento em que é necessário assumir responsabilidades e passar por desafios que são essenciais para atingir a liberdade posteriormente. Do mesmo jeito que um pássaro quando chega a hora precisa aprender a voar sozinho, nós somos obrigados a nos jogar no mundo e aprender a viver sem nenhum manual de instrução. A diferença é que o pássaro que não aprende a voar, morre, e o ser humano tem a opção de continuar rastejando na sombra de uma falsa independência sem abrir os olhos para sua libertação mental, emocional e espiritual.

No dia em que consegui meu primeiro emprego no campo que - eu achava que - tinha tudo a ver comigo, a animação foi tão grande quanto a decepção. 
Como incansável questionadora da vida, não consegui deixar de refletir sobre o que todo aquele tempo investido significava.
Trabalhar é crescer. Crescer como pessoa, entrar na vida adulta, cortar as dependências do ninho. Trabalhar faz parte do processo de se tornar livre e dono de si mesmo. Significa assumir compromissos e responsabilidades, e ser recompensado por isso. Ao mesmo tempo pode ser uma experiência de autoconhecimento e independência, e uma verdadeira prisão. Pois, quando se aceita vender sua inteligência, seu tempo e sua força para o mercado capitalista de concorrências e competições constantes, se aceita também que sua vida tem um preço que pode ser pago. Que você nada mais é do que uma peça muito pequena e substituível, mas que investe sua energia fazendo volume e incentivando a grande engrenagem que produz tanto sofrimento, segregação e desigualdade, a continuar  a girar. 

"E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar à miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico?"
(Almeida Garrett)


Continuo no sistema (por hora).

Mas esse é o momento de decidir acordar. É o momento de passar por experiências que daqui um tempo não vou mais me submeter. Agora preciso pensar em que tipo de vida quero para mim mesma. 

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