Another Brick in the Wall
11:30
“Acho que estou com medo.
Medo de me envolver de novo, medo de amar, medo de perder. Medo de não amar.”
Estava sozinha em meio à multidão.
Ela andava pela cidade,
apenas com uma mochila nas costas, sem rumo. Era um domingo de sol e vários pontos
das ruas estavam lotados de pessoas.
Ela andava olhando ao redor,
mas não via nada, não sentia nada. Estava entregue a seus pensamentos.
Estava sozinha em meio à multidão.
Seu maior segredo era sua
maior angústia. Ficar sozinha, crescer sozinha, viver sozinha, desejando no
mais profundo silencio de sua alma ter alguém e não ter que
enfrentar a vida sozinha.
Relacionamento atrás de
relacionamento e o desejo permanecia sufocado pela necessidade de estar
sozinha.
Hoje, o ciclo se repete, e
novamente ela percebe sua posição de introspecção e solidão.
Estava sozinha em meio à multidão.
Sozinha, com a liberdade de
ir para qualquer lugar e ser qualquer pessoa, o que a levava a não ser nada além
de ela mesma.
Mais um ciclo começava e novamente ela estava por si só.
Cansada, ela se sentou a
sombra de um coqueiro, colocando finalmente seus pés na areia quente da praia,
sabendo que no fundo seu destino sempre havia sido aquele, guiado pelo
inconsciente.
Ela sentou e chorou sua solidão,
lagrimas escorriam trazendo escondido o segredo calado de querer ter alguém. A angústia
de sempre precisar estar sozinha. A necessidade de ser livre.
Chorou sozinha em meio à multidão.
E sua solidão era tão perversa
e tão maravilhosa, que mesmo cercada de pessoas, ela a acompanhava sem cessar,
presente incondicionalmente, como a uma sombra que não desaparece no escuro,
mas torna-se o próprio todo.
Mas a solidão em si, não apenas
uma sombra, mas também uma amiga, abriu mão de interpretar seu papel durante um
momento que compreendeu ser necessário.
Autorizada por essa solidão sábia,
uma senhora se aproximou e perguntou o porquê do choro.
“Vai ficar tudo bem” – foi a
única coisa que ela conseguiu responder.
“Vai ficar tudo bem quando você
não depender de mais ninguém para ser feliz” – respondeu a velha senhora, que a
vendo chorando sua solidão, explicava na mais eterna paciência.
Ela se levantou e juntas
caminharam em direção ao mar, a velha contando sobre suas experiências e ela
ouvindo atentamente os conselhos de alguém que já lidou muito mais do que ela
com a sua própria solidão.
Em meios às reflexões, a
senhora contou a seguinte historia:
“Certa vez, um professor
chegou à sala de aula para ensinar seus alunos. Nesse dia, entretanto, não havia
trazido livro algum, nem mesmo uma caneta.
Havia trazido com ele apenas
um tijolo embaixo do braço e um filme que passaria aos estudantes. O filme,
por sua vez, era um documentário que não continha palavras, apenas imagens.
Imagens de grandes construções. Dos mais históricos monumentos às mais belas mansões
e mais altas torres.
Os alunos, sem entenderem o
proposito do tal documentário, continuaram assistindo, impressionados com
aquelas magnificas obras de arte.
Então, já no final da aula,
o professor virou-se aos estudantes e disse:
‘Esse tijolo, assim como
cada um que faz parte dessas construções, já quis pertencer a um monumento
desses.
E vocês? Querem participar
de deixar um legado para a humanidade?’ ”.
Sorrindo, a velha completou:
“Isso é viver, minha
querida! Abra suas asas e se jogue no mundo! Você também pode ser parte de um
projeto maravilhoso, só basta querer.”
•••
Agora, completo o sentido
dessa conversa toda.
O tijolo não deixa de ser
tijolo em meio a uma parede. Ele continua mantendo seus contornos e seu papel
muito bem definidos internamente.
Mas sozinho, um tijolo não constrói
nada, por isso a angústia daquele que não faz parte de algo maior.
O tijolo, portanto, deve
permanecer inteiro e solido em seu próprio existir para, então, somente depois,
juntar-se a outros tijolos também sólidos
e plenos. Somente assim ele conseguira dar base a projetos que irão criar
historia e mudar a realidade deles mesmos, dos outros tijolos vizinhos, e do
mundo.
Nem se for só para deixar o
planeta um pouquinho mais bonito.
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