Levemente Claro
00:02
O quarto estava levemente escuro, clareado apenas pela pouca luz
que entrava pelas janelas entreabertas.
O ventilador estava desligado, mas
mesmo assim as cortinas se agitavam movidas pelo vento que soprava lá fora.
Ainda era dia. Era? Devia ser. De qualquer forma, não importava. O quarto tinha
seu próprio tempo, assim como ela. A vida lá fora não fazia parte daquele
momento, daquele espaço fora do espaço, embora ainda estivesse dentro do mundo.
Mas o que ela vivia, agora, era apenas seu mundo, e de mais ninguém. Talvez o
mundo do quarto, se ele pudesse reivindicar uma forma de ver a vida.
E o quarto continuava levemente escuro. Ou
levemente claro. Parecia não ser nem um nem outro! Não conseguia se decidir a
ser realmente algo, assim como ela também não se decidia.
A sua frente, projetada nas paredes que
haviam sido pintadas por ela mesma em uma época que agora já virara uma memoria
antiga, passavam cenas de sua vida, criadas por sua imaginação. O que ela
lembrava, já não tinha mais certeza de como realmente fora. E o que era agora, não
sabia identificar, pois viver aquilo já era confuso demais. Talvez no futuro
ela entendesse. Mas ai já não seria mais a realidade, seriam apenas cenas nostálgicas
mergulhadas em manipulações que ela fazia sem se dar conta.
Ainda bem que o tempo passa. Ainda bem que
outras realidades viriam. Ela se sentia empolgada, e com medo ao mesmo
tempo.
Com medo de crescer, com medo de não
crescer. Mas o crescimento não seria algo involuntário? De uma maneira ou de
outra, deveria crescer. Como ser humano. Como espirito. Como parte de algo
maior, e como dona de si mesma.
Assim como o vento movia as cortinas, ela
pedia para que o destino a levasse de encontro com o que ela deveria viver.
Pedia que sua intuição a guiasse pela aventura que é estar viva, para que sua
vida fosse vivida ao extremo. Para que cada segundo contasse.
Mesmo aqueles segundos infinitos que se
passavam em meio a devaneios em um quarto levemente claro.
1 comentários
Muito boa reflexão... gosto muito dessa reflexão na terceira pessoa!
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