Dentro

23:06


Meus órgãos se contraem no interior de meu íntimo, meu coração pulsa mais rápido, gotas de suor brotam em minha testa e nas mãos que tremem sem minha permissão.
O desejo de ser dois e então me encontrar como um faz lágrimas brotarem em meus olhos. Existe um buraco aberto dentro da imensidão de ser, que não parece ter fundo. Estou em queda livre dentro de mim, procurando me agarrar a coisas que não me dão sustentação. Cada vez que uso toda minha força para me prender a algo na esperança de parar de cair, o buraco aumenta. As primeiras vezes eram mais difíceis, a sensação de cair me cortava a respiração e me deixava sem norte. Mas então, então começou a cicatrizar. Não que o buraco esteja deixando de existir: na verdade, diria que ele nunca foi tão grande. Mas já não dói mais quando o externo não me deixa agarrar.

Prendo minha respiração e escolho mergulhar nas profundezas da natureza de existir, sabendo que não importa o lado que eu olhar, continuarei nadando sozinha. O mar está calmo e passar por ele não é doloroso, mas a ideia de ser só em meio a eternidade me faz sentir miúda e com medo. Com medo de mim, com medo do abismo, com medo das profundezas do mar que existem dentro de quem sou. Pois o inconsciente é nosso maior abrigo. Nossa alma, nossa casa eterna. No final, nós só temos nós mesmos para nos fazer companhia, junto com todo o mistério que a vida implica pelo simples fato de acontecer.

Talvez a ideia seja enfeitar o abismo, em vez de tentar escapar dele. Mas toda vez que alguém se despede, um pedaço de mim entra em luto. Morre aos poucos, até dizer adeus por completo e deixar que uma nova semente floreie em uma sepultura regada por lágrimas de renascimento.  

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