Razões

08:54




Escrevo porque o ato de escrever é o que me faz ver a mim mesma, e, portanto, o mundo;

Escrevo porque as palavras, ao surgirem no papel sem serem inventadas, mas sim transcritas, fazem com que eu me traduza;

Escrevo porque sem palavras não existe nada, mas é do nada que as palavras surgem, e para entender o nada preciso delas;

Escrevo porque o silêncio me consola, mas apenas a reflexão que vem do nada - ou seja, de mim - me faz crescer. Me faz viver. Me faz permanecer consciente sobre a vida em si e sobre eu em mim;

Escrevo porque as letras de um livro são como as gotas de água no oceano, e juntas expressam aquilo que se vê e que se sente. Como entrar no mar subitamente gelado, e ao sentir-se mais leve compreender o propósito da água toda, aparentemente exagerada, mas depois entendida como essencial em cada gota.
E cada letra.

Escrevo para me entender, pois o que seria de mim se além de não entendesse o mundo, também não me compreendesse?

Escrevo porque não tenho a opção de não escrever;
Vivo em um falso livre-arbítrio porque, no fundo, não posso fugir de mim.

Escrevo porque todos os dias continuo aqui, e para sustentar essa existência que me foi dada, me expresso através de frases que me são enviadas;
Copio-me a mim mesma;
Transcrevo o nada e o tudo que há em mim.

Como um mosquito que zumbi em torno de minha cabeça, o ouço de longe, e me incomoda sem doer e sem cessar, até que o pegue em minha mão e perceba sua real existência. Assim são as frases que formam-se em algum lugar que não posso ver, mas que se fazem presentes e insistentes até que as coloque no papel, e então não incomodam mais.
Encontro o alívio no desconhecido que me é presenteado.

Escrevo porque, se não escrevo, sou um nada vazio, e para continuar a existir, preciso tornar-me um nada completo.



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